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Neuroeducação – A neurociência para ensinar a aprender. (Por Danilo Dacar)



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A aproximação da neurociência e da educação não é nenhuma novidade em pleno século XXI, mas a sofisticação e a popularização, bem como seu poder de convencer pais, alunos e educadores sobre o papel do cérebro no processo de aprendizagem é que torna interessante a ideia de descobrir esse inimaginável universo da neuroeducação. A síntese das duas áreas obedece a uma razão evidente: o conhecimento do cérebro humano pode ser muito útil para a criação de novas estratégias pedagógicas e modelos de aprendizagem, já que o sistema educacional atual ainda continua a utilizar os modelos tradicionais em que se prioriza a aprendizagem de memória, em que o professor ensina e o aluno aprende assimilando conhecimentos sem saber de onde vem ou pra que servem, muitas vezes atreladas a racionalidade e intelecto, sem levar em consideração as conexões emocionais estabelecidas no processo.

Os estudos do cérebro enfatizam que as emoções localizadas no sistema límbico são muito importantes na hora de estimular a aprendizagem, nesse caso, o aluno estuda com interesse e motivação a matéria em que se cria uma conexão emocional. Mas para isso é importante entender como essa construção se dá ao longo da formação do indivíduo. No livro Neurociência e educação: como o cérebro aprende, o autor Ramon M. Cosenza afirma que não existem dois cérebros humanos iguais, mas todos possuem vias motoras e sensoriais que seguem o mesmo padrão. Quando a criança nasce, já tem prontos em seu cérebro esse conjunto de circuitos, ainda que eles não estejam funcionando em sua plenitude. Mas o que torna os cérebros diferentes é o fato dos detalhes de como os neurônios que se interligam vão seguir uma história própria. É como uma cidade planejada, que à medida que vai sendo construída vai adquirindo características próprias, podendo ocorrer, inclusive, algumas mudanças no plano original. A história de cada um constrói, desfaz e reorganiza permanentemente as conexões sinápticas entre os bilhões de neurônios que constituem o cérebro. Do ponto de vista neurobiológico, a aprendizagem se traduz pela formação e consolidação das ligações entre células nervosas. É fruto de modificações químicas e estruturais do sistema nervoso de cada um, que exigem energia, estímulo e tempo para se manifestar.

Professores podem promover alguns estímulos, mas a aprendizagem é um fenômeno individual e privado e vai obedecer às circunstâncias históricas de cada indivíduo. O cérebro está permanentemente preparado para aprender os estímulos significantes e aprender as lições que daí possam decorrer. Essa é até uma boa notícia para os professores, ao mesmo tempo em que é, talvez, o maior desafio no ambiente escolar. Pode-se dizer que o cérebro tem uma motivação intrínseca para prender, mas só se estiver disposto a fazê-lo para aquilo que reconheça como importante. A sobrevivência, na escola, pode significar simplesmente aprender para passar na prova. E depois rapidamente esquecer. Quem ensina precisa ter sempre presente a indagação: por que aprender isso? Em seguida: qual a melhor forma de apresentar isso aos alunos, de modo que eles o reconheçam como significante?

Será mais significativo aquilo que tenha ligações como que já é conhecido, que atenda as expectativas ou que seja estimulante e agradável. Uma boa forma de atingir tal expectava é talvez uma exposição prévia do assunto e que faça ligação do conteúdo com o cotidiano do aluno. Um ambiente estimulante e agradável pode ser criado envolvendo os estudantes em atividades em que eles assumam um papel ativo em não seja meros espectadores. Lições centradas nos alunos, o uso de interatividade, bem como a apresentação e verificação de metas a serem atingidas são também recursos compatíveis como o que se conhece do funcionamento dos processos atencionais. Por outro lado, o manejo do ambiente escolar é relevante. Minimizar distrações e flexibilizar recursos didáticos, utilizando-se do uso adequado da voz, da postura e de elementos como humor e descontração moderada, podem ser essenciais pois novidade e contraste são eficientes na captura de atenção. A manutenção da atenção por um período prolongado exige a ativação de circuitos neurais específicos, e que, após algum tempo, a tendência é que o foco de atenção seja desviado para outros estímulos do ambiente ou por outros processos centrais, como novos pensamentos, por exemplo. Portanto, exposições muito extensas dificilmente serão capazes de manter por todo o tempo o foco, sendo importante dividi-las em intervalos menores.

Com a ajuda da neurociência, todas ações discutidas são comprovadamente eficazes, além disso, a intervenção escolar afeta a inteligência, não só permitindo um aumento da informação, mas modificando atitudes e criando habilidades intelectuais. A contribuição dada pela neuroeducação pode ser fundamental para traçar perfis cada vez mais fidedignos das capacidades e limitações dos alunos, levando em conta não apenas as habilidades cognitivas e comportamentais, mas também os fatores biológicos. Isso é o que o neurologista Vitor Haase neurologista e professor do departamento de neurologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em artigo publicado na edição n° 51 da Revista Pátio Educação Infantil, define como a função primordial da neuropsicologia escolar.

“Essa área pode identificar e explicar as razões pelas quais algumas crianças não aprendem na escola, além de auxiliar na formulação de estratégias pedagógicas eficazes para superar as dificuldades”, afirma o neurologista.

As técnicas de aprendizagem poderiam ganhar um reforço científico considerável a partir disso. A neuroeducação, porém, não se limita a apontar as causas somente das dificuldades provenientes de transtornos do desenvolvimento ou lesões cerebrais. O processo também abrange a dimensão psicológica do aluno. O método pode determinar a aplicação de avaliações e hipóteses para excluir diagnósticos. Assim, os educadores e instituições podem encontrar a estratégia mais adequada para contornar ou sanar as dificuldades apresentadas pelo aluno. O direcionamento proposto pela neuroeducação reforça a inadequação dos currículos tradicionais de ensino, que procuram nivelar os alunos num mesmo molde de aprendizado. A padronização, aliás, pode complicar ainda mais as condições dos indivíduos com dificuldade de assimilação.

“Os comportamentos inadequados em sala de aula são frequentemente agravados pela sobrecarga cognitiva que muitos métodos de ensino impõem ao não considerarem as limitações da capacidade cognitiva humana e sua variabilidade interindividual”, reforça Haase.

Aos poucos, a ciência começa a justificar a necessidade de uma mudança nos rumos da educação. E o caminho aponta para as metodologias adaptativas e individualizadas de ensino, que priorizam a características intelectuais dos alunos no protagonismo no processo de aprendizagem. Apesar disso, a adoção de técnicas e conhecimentos desenvolvidos pela neuroeducação ainda é pouco viável na realidade brasileira – em razão do alto custo das tecnologias e da própria adaptação das instituições à proposta. A sugestão de Vitor Haase, portanto, é iniciar o processo pela aplicação das diretrizes da neuropsicologia em sala de aula. Essa abordagem pode ser responsável pelo enlace entre a neurociência e a pedagogia, abrindo caminho para a evolução dos métodos científicos de ensino. Será que os professores e alunos do séc. XXI estão preparados para esse embarque da neurociência no universo da escola? Essa pergunta só o tempo responderá.


 
 
 

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